domingo, 18 de abril de 2010

Poema do passarinho!

Neste mês, para meus 3 ou 4 leitores deste blog, tenho pouco a dizer de mim mesmo. Resolvi, então, para não passar em branco, compartilhar um poema escrito pelo poeta romano Catulo (Gaius Valerius Catulus, 87/84?-54/52?), traduzido por mim, sem pretensões maiores a não ser a de divulgar a obra desse grande poeta da antiguidade e brincar um pouco com as palavras latinas!

(Para meus alunos, deixo também o texto original em latim, nessa língua estranha que poucos ainda estudam... Para os mais curiosos, após a tradução faço algumas considerações filológicas sobre o texto!)

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[Carmen II]

Passer, deliciae meae puellae,

quicum ludere, quem in sinu tenere,
cui primum digitum dare appetentiet

acris solet incitare morsus,

cum desiderio meo nitenti

carum nescio quid lubet iocari

et solaciolum sui doloris,
Credo ut tum gravis acquiescat ardor:

tecum ludere sicut ipsa possem

et tristis animi levare curas!

***
[Poema II]

O passarinho, delicias da minha menina

Com quem agrada brincar e ter no colo,

E oferecer a ponta dos dedinhos

E incitar dentadas maldosas,

Quando apraz ao meu vigoroso desejo

Jogar um não-sei-o-quê prazeroso

E trazer um pequeno alívio à sua dor

Creio, então, que seu forte ardor se aquieta.

Ah!, se eu pudesse assim brincar como esse

Passarinho, e então aplacar os desassossegos

Da minha alma triste!



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UM NOVO CANTOR DOS AMORES EM ROMA!


Assim, de forma leiga, seria adequado qualificar o poeta Catulo a partir de sua obra. "Poeta novo", Cícero, seu contemporâneo, lhe classificou, pejorativamente, pois sua obra, diferente do que era comum, desdenhava os épicos da tradição romana até então. Em vez disso, Catulo produziu um tipo de poesia bastante particular: voltada para temas intimistas, com forte tom amoroso, no qual se apresenta ao leitor a persona poética de Catulo, o eu-lírico, de mesmo nome, e sua amada, Lésbia. Uma corrente da crítica chega mesmo a associar Lésbia como uma homenagem à poetisa grega antiga Safo (c. 600 a.C), poesia também traduzida/mimetizada por Catulo em outro poema (poema LI). Porém, os textos curtos de Catulo, por ele chamados de nugae ("bagatelas", "gracejos") mais se afinizam não com a poesia arcaica ou clássica gregas, mas produzem diálogos intertextuais com a poesia helenística produzida nos séculos II e I a.C, em especial de Calímaco. Ela tem como características: a temática de circunstância; o tom ora brincalhão, ora erótico-amoroso, ora galhofeiro e agressivo; o valor da concisão (breuitas) e da ars (refinamento da forma); as alusões intertextuais.