sexta-feira, 14 de março de 2008

Folhas secas*

Folhas secas, pisadas no chão
Velhas folhas...
A criança olha e sorri:
Claro e escuro –
Este, a fruta doce do chão
Aquele, o sorriso infantil.

Folhas secas, enlevadas no vento
Dança do vento...
O céu parece imóvel:
Tempestade e calmaria –
Esta, a folha caída no chão
Aquela, o ecoar distante da música.

Folhas secas, frutas doces –
Doce e terno o sorriso
E o olhar daquela criança:
Dança contente com o som –
Dizendo nada é tão triste,
Nada é tão feliz.



*Escrevi esse poema em 21/11/2004, quando lia Emily Dickinson e quando via poesia em todas as coisas a minha volta. Era boa a sensação de estar me descobrindo, me lembro muito bem daquele dia, no museu, a menina no chão, brincando com as folhas e a sinfonia sendo executada dentro das paredes centenárias. Escrevi às pressas o poema que hoje, finalmente, publico.




sexta-feira, 7 de março de 2008

Fotografando o invisível



“Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob a redoma. Foi a ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.”

Para o Pequeno Príncipe, todas as rosas do mundo, por mais perfumadas ou belas que fossem, eram apenas rosas, vazias e mortais, simples e triviais como as outras. A rosa mais importante não era aquela que se destacava pela beleza excepcional, ou pelo perfume mais encantador, a rosa mais essencial era aquela que ele mesmo tinha visto crescer, aquela que ele mesmo cuidou com suas mãos pequenas, aquela que ele ouviu, regou, protegeu. A rosa solitária da redoma de vidro era única e mais importante de todas, simplesmente porque era o resultado do seu amor.
Mas nem sempre o Príncipe sabia disso. Ele precisou passar por um longo caminho até descobrir o significado do que sentia pela rosa. Ele precisou que a Raposa lhe mostrasse, pela comparação com as outras belezas do mundo, o significado do que era cativar.

“- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que fez tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu dediquei à minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...”

Assim é a vida. Como dizia uma amiga, muitos passam em nossas vidas como cometas de luz passageira, encantam e logo depois desaparecem na escuridão do firmamento. Outros são como cometas Halley, são raríssimos, são daqueles que costumamos conhecer poucas vezes na vida. São como a Rosa do Pequeno Príncipe: única e inesquecível. Mas é preciso coragem e dedicação, para cuidar, regar, proteger, cativar; para, enfim, fazer crescer robusta a raiz desse sentimento igualmente raro, que é o amor. Seremos sempre responsáveis uns pelos outros.

Assim é a vida... Além da folhagem que emoldura a fotografia acima, existe uma representação do infinito, lá no alto onde o céu não se acaba. Perdidos no azul da imensidão do universo, lá do alto observamos a Terra, e, se olharmos com calma, nos veremos ali: deitados na grama, pensando que a vida é bela e que, afinal, fomos premiados porque um dia nossos olhos se cruzaram. Espelhada em nossos olhos, temos a imagem um do outro. Somos totalmente felizes por um tempo, mas é preciso cuidar, para que a fotografia não se torne apenas uma lembrança de um dia feliz.

Não me cansarei olhar esta fotografia, para enxergar com o coração o sentido que ela tem ou poderá ter. Sim, com o coração, pois o essencial é invisível aos olhos.